16 de fev. de 2008

Em preto-e-branco

[texto em desenvolvimento e sem revisão]
A Galeria Olido, destinada à fotografia a partir deste ano, inaugura a programação de exposições de 2008 apresentando uma contextualização da fotografia de Fernando Lemos e sua vasta produção no território artístico e cultural – desenho, design gráfico, editor e gestor cultural, entre outras – . A exposição Preto e Branco Fernando Lemos é inédita pela abrangência e, aponta, no universo da câmara escura, a lucidez de uma produção instigante e múltipla.

Sintonizado com artistas que renovaram a arte em Portugal e com militantes do surrealismo, as fotografias que Lemos gerou neste período (1949-52) reafirmaram seu nome como um artista inquieto. Nestas obras Lemos subverte o formalismo estético almejado pelo regime de Salazar (um dos motivos de sua transferência voluntária para o Brasil, em 1953), ao desmontar a mítica da "reprodução da natureza" que envolveu a fotografia num momento de sua história.

A exposição desta série causou agitação nos dois lados do Atlântico. Engajado numa proposta estética comprometida com a causa política, por conseqüência, a exposição pública de suas obras em Portugal determinaram o componente subversivo do artista frente ao fascismo.

No Brasil, ao serem expostas no Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro em 1953 e 1954, conforme observa Fábio Magalhães na apresentação do livro DESENHUMOR, estas fotografias se mostram paradigmáticas para a reversão do status da categoria fotográfica, vista até então, no cenário cultural, mais como registro do que uma forma de arte.

A Pinacoteca do Estado de São Paulo organizou a exposição À Sombra da Luz/Fernando Lemos, em 2004, ocasião em esta série fotográfica foi apresentada no seu conjunto. Incorporada a coleções institucionais e particulares, a série foi novamente exposta no Sintra Museu de Arte Moderna, em 2005, sendo contextualizada pelo prisma do movimento surrealista.

Após o intervalo de algumas décadas sendo expostas parcialmente e diluída entre desenhos e pinturas, a reunião do conjunto desta série permitiu a uma geração conectar uma imagem a outra e estabelecer novas leituras e aporte histórico.

Associado a estas ações culturais, o catálogo À Sombra da Luz/Fernando Lemos trouxe uma rica abordagem desta produção, como a análise do percurso de Lemos no Brasil e Portugal realizada por Ricardo Mendes e, ainda, pela contextualização de Paulo Herkenhoff. A respeito do distanciamento do Brasil diante das conquistas da fotografia na Europa e Estados Unidos no início do século XX, Herkenhoff observa que a fotografia não havia sido incluída como forma de expressão entre os modernistas brasileiros, prorrogando o entendimento mais amplo desta categoria até a década de 1950, quando emergem as produções de Fernando Lemos, Athos Bulcão, Jorge Lima e Geraldo de Barros, assim como, a reivindicação de um novo estatuto, assinada pelos críticos Walter Zanini, Sergio Milliet, Frederico de Moraes, Mario Pedrosa e Geraldo Ferraz nas publicações do Foto-Clube Bandeirantes.


Preto e Branco Fernando Lemos acrescenta novos parâmetros para o entendimento contemporâneo do artista na sua multiplicidade de atividades e inova ao apresentar o artista com outra proposição frente a fotografia. Traz, de forma inédita, séries fotográficas produzidas após sua chegada ao Brasil, ao longo de três décadas. Entre estas séries, a documentação da preparação da Mostra Histórica do IV Centenário de São Paulo, no então denominado Pavilhão de Exposições do Parque do Ibirapuera; a documentação da filmagem de Compasso de Espera, filme de Antunes Filho e a série Manhã de Domingo – um recorte da intimidade familiar do artista.

Em sua visita guiada à exposição, realizada em março de 2008, Fernando Lemos revela que não recaia sobre esta produção nenhuma preocupação estética e que, seu objetivo não era outro, senão, o mero registro. Esquecidos em uma caixa, estes negativos foram resgatados no tempo, amplificando o contexto de sua produção nesta exposição.

Recaem duas questões sobre a sua produção fotográfica no período brasileiro, que serão tratadas oportunamente. O olhar focado no ambiente metropolitano de São Paulo, pouco usual para o estrangeiro, quase sempre, seduzido pela exuberância da natureza tropical, e, um certo olhar para a fotografia descomprometido com o engajamento artístico e político, que aponta para a reformulação de seu projeto poético para a fotografia.

Fotos:
1. Fernando Lemos / Auto-retrato
2. Fernando Lemos, Jaime Cortesão (curador da Mostra Histórica do IV Centenário de São Paulo e responsável pela transferência de Fernando Lemos para o Brasil) e Moga (encarregado da montagem da Mostra Histórica), 1954.


Exposição

Preto e Branco Fernando Lemos
Galeria Olido – Sobreloja e 1o Andar (até 13 de abril)
Av. São João, 473 (ao lado da Galeria do Rock)
Metrô São Bento
Tel 3331 8399
Horários e outras informações: http://www.centrocultural.sp.gov.br/

Fernando Lemos – Atrás da imagem
Filme de Guilherme Coelho
Apresentações diárias em DVD (13h e 17h)
Color, digital, 55min